- É assim que você gosta?
Ele disse, e me puxava pelas pernas, com um desejo complacente. Eu, eu não o via através dos olhos bêbados que traduziam um sono ancestral, que não deixava pensar se tudo era como eu queria. Mas eu não me importava, nada me importava, apenas sentia-o puxar-me pelas pernas e entrar em mim de um jeito que intuí ser decidido. Mas ainda assim era um desejo complacente e eu pensava que talvez pudesse haver piração e não houvesse nada além do meu sono ancestral que me lembrava a personagem Matilde da Anais Nin, e o jeito que intuí ser decidido, talvez fosse agudo, amolado, e estivesse me imolando.
Talvez eu sangrasse rios de sangue, talvez eu sangrasse mares de sangue, talvez eu sangrasse todos os acidentes geográficos, e, como uma puta, a puta Matilde, sangrasse meus acidentes de trabalho.
E não era ele um vampiro, afinal? Não bebia de mim esse sangue, de meu corpo exangue que via com meus olhos bêbados?
Mas ele vinha e me entrava e o verbo que me escapulia na mente embaçada podia ser subservir, podia ser utilizar-se, hifenado, pra sempre distanciar, separar, estender. Era o verbo do se perder.
E me perdendo, quando ele se desatava de mim, separava, estendia, pra sempre distanciava, e então substituía-se por sua língua, eu, dos olhos bêbados e da mente embaçada, historiava que aquela era a língua minha, que me tornava outra mulher, não minha, não-minha-mulher. Eu invadindo nela-em-mim que era molhada, que tinha gosto de visgo, como eu já sabia.
E então meu sono ancestral que nesse momento me presenteou embebedando mais meus olhos e embaçando mais a minha mente, fez-me rir, apenas um esboço, e pensei em todo o sangue era quente.
- É assim que você gosta?
- É, é assim mesmo.
Escrito por Patricia Barbara via: BLOG: Não Para,Não Para...